domingo, 27 de março de 2016

O Domingo de São Gregório Palamas

 

Cada um dos domingos da Quaresma possui um tema especial, que devem ser entendidos tanto pelo aspecto histórico e pelo espiritual. No domingo de hoje, o Domingo de São Gregório Palamás, o tema é que o homem pode tornar-se divino (teósis) através da graça de Deus no Espírito Santo.
"O poder divino deu-nos tudo o que contribui para a vida e a piedade, fazendo-nos conhecer aquele que nos chamou por sua glória e sua virtude.
Por elas, temos entrado na posse das maiores e mais preciosas promessas, a fim de tornar-vos por este meio participantes da natureza divina, subtraindo-vos à corrupção que a concupiscência gerou no mundo.
2 Pedro 1:4
Foi S. Gregório Palamás que deu testemunho de que através da oração e jejum os seres humanos podem se tornar participantes da Luz Incriada da Glória Divina de Deus, ainda nesta vida.
O tema do primeiro domingo, o Triunfo da Ortodoxia, é a fé, e a fé correta. O tema do segundo é que a consequência necessária da fé é o esforço. As leituras durante a Divina Liturgia de hoje são Hebreus 1:10-2:3 e S. Marcos 2:1-12. Hebreus nos lembra que "é preciso que prestemos maior atenção ao que temos ouvido, para que jamais nos desviemos...como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação?" A lição do Evangelho traz a imagem do forte desejo transformando-se em esforço por parte do paralítico que é levado até Cristo através do teto.
São Gregório Palamás
Nosso pai entre os santos Gregório Palamás (1296-1359), foi um monge no Monte Athos, na Grécia (nos mosteiros de Vatopedi e Esphigmenou) e mais tarde Arcebispo de Tessalônica.
Nasceu provavelmente em Constantinopla de uma nobre família da Anatólia. Desde jovem sentia-se atraído para a vida monástica e chegou a convencer seus irmãos e irmãs, além de sua mãe viúva, a adotarem a vida monástica. Por volta de 1318, ele e seus dois irmãos foram para o Monte Athos, onde conheceram em primeira mão a tradição hesicástica da oração contemplativa.
Com a aproximação dos Turcos, tiveram que sair de Tessalônica, sendo ordenados padres em 1326. Depois, São Gregório Palamás foi viver como heremita em uma montanha perto de Borea, retornando para o Monte Athos em 1331. Seis anos depois acabaria se envolvendo na polêmica que lhe deu fama, no debate com Barlaam, um monge grego da Calábria, na Itália.
Barlaam acreditava que os filósofos tinham melhor conhecimento de Deus do que os profetas, e considerava a educação e o aprendizado mais valiosos que a oração contemplativa. Ele afirmava de uma forma extrema que era impossível para o ser humano ter qualquer conhecimento objetivo de Deus. Por isso, ele acreditava que os monges do Monte Athos estavam perdendo seu tempo com a oração contemplativa quando deveriam, no seu entender, estar estudando para adquirir conhecimento intelectual.
São Gregório Palamás criticou o racionalismo de Barlaam e obteve como resposta um ataque insultuoso contra a vida dos monges do Monte Athos. A resposta de São Gregório foi um livro chamado "Tríades em Defesa dos Santos Hesicastas" (1338), um trabalho brilhante que foi bem recebido por um concílio local no Monte Athos ocorrido entre 1340-1341.
Também em 1341 reuniu-se um outro Concílio, este em Constantinopla, apoiando S. Gregório Palamás e condenando Barlaam. Mais tarde, em 1344, os oponentes do hesicasmo conspiraram para obter uma condenação por heresia e a excomunhão de Gregório Palamás, mas o ensino teológico dele foi reafirmado em dois outros concílios em 1347 e 1351.
Coletivamente, esses três concílios em Constantinopla são considerados por muitos cristãos ortodoxos e proeminentes teólogos como o Nono Concílio Ecumênico. Entre os dois últimos concílios, Gregório compôs um outro livro, chamado Cento e Cinquenta Capítulos, que é uma explicação concisa de sua teologia.
Em 1347 ele foi consagrado Arcebispo de Tessalônica, mas o clima político tornou impossível que tomasse posse da Sé até quase 1350. Durante uma viagem para a capital imperial, ele foi capturado pelos turcos e mantido prisioneiro por um ano. Ele adormeceu no Senhor em 1359 e foi glorificado (canonizado) pela Igreja Ortodoxa em 1368.
O Ensino de Gregório Palamás
Gregório ensina que os profetas de fato possuem um maior conhecimento de Deus, porque eles verdadeiramente viram ou ouviram o próprio Deus. Sobre como é possível que seres humanos tenham conhecimento de um Deus transcendente e incognoscível, ele lembrou a distinção entre conhecer Deus em essência (em grego ουσία) e conhecer Deus em suas energias (em grego ενέργειαι). Ele defendeu a doutrina Ortodoxa de que é impossível conhecer Deus em essência (Deus em Si mesmo), mas é possível conhecer Deus em Suas Energias (conhecer o que Deus faz, e Quem Ele é em relação com a criação e com o homem), como Deus revela-Se para a humanidade. Para tal defesa ele fez muitas referências aos Pais Capadócios e outros escritores cristãos.
São Gregório ainda afirma que quando os Apóstolos Pedro, Tiago e João testemunharam a Transfiguração de Jesus Cristo no Monte Tabor, eles de fato viram a Luz Incriada de Deus, e que é possível que outros recebam o dom de ver essa mesma Luz de Deus com o auxílio do arrependimento, da disciplina espiritual e da oração contemplativa, embora continue sendo um dom que Deus concede se quiser, e não um efeito automático ou mecânico.
Ele continuamente enfatizava a visão bíblica de que o ser humano é um todo integrado, tanto corpo quanto alma. Portanto, dizia ele, o lado físico da oração hesicasta é um elemento necessário da vida contemplativa monástica, e que a visão que alguns monges diziam ter da luz incriada era legítima. Assim como S. Simeão, o Novo Teólogo, ele também dava grande ênfase para seu ensino espiritual sobre a visão da Luz Divina.

Citações de São Gregório Palamás:

"Quando buscamos com diligente sobriedade manter vigilância sobre nossas faculdades racionais, controlá-las e corrigi-las, como poderemos ter sucesso em tal tarefa se não for concentrando nossa mente, a qual vive dispersa pelos sentidos, e trazendo-a de volta ao mundo interior, ao próprio coração, que é o armazém de todos os pensamentos?"
"Porque Deus é a bondade em si mesma, verdadeira misericórdia e um abismo de amor sem fim - ou, melhor dizendo, Ele contém em si tal abismo porque Ele transcende qualquer nome que seja nomeado e qualquer coisa que possamos conceber - mas porque Ele é tudo isso, nós podemos receber misericórdia apenas através da união com Ele. Unimo-nos a Ele, o tanto quanto isso é possível, através da participação nas virtudes divinas e entrando em comunhão com Ele através da oração e do louvor. Porque tais virtudes são similitudes de Deus, a participação nelas coloca-nos em um estado adequado a recebermos Deus, embora não nos una com Ele ainda".

Tropário de São Gregório Palamás
Ó Luz da Ortodoxia, professor da Igreja e sua confirmação
Ó ideal dos monges e invencível campeão dos teólogos
Ó miraculoso Gregório, glória de Tessalônica e pregador da graça
intercede sempre por nós perante o Senhor para que nossas almas sejam salvas

Kontákion de São Gregório Palamás
Santo e divino instrumento da sabedoria
jubilosa trombeta da teologia
juntos cantamos-te louvores, Ó Inspirado de Deus, Gregório
Já que agora estás diante da Mente Original, guia nossas mentes a Ele, Ó pai
para que cantemos-te assim: "Alegra-te, pregador da graça"


Tradução de OrthodoxWiki

Nenhum comentário:

Postar um comentário